DISTORÇÃO DA IMAGEM CORPORAL E TRANSTORNOS ALIMENTARES
Abordarei a distorção da imagem corporal presente nos transtornos alimentares da Anorexia Nervosa (AN) e Bulimia Nervosa (BN), apresentando os diversos aspectos que constituem tais transtornos: genéticos, psicológicos e sociais. O que seria a distorção da imagem corporal? Quando um indivíduo magro se enxerga como alguém gordo, podemos dizer que está ocorrendo tal distorção.
TEXTO E DIVERSOS
Dra. Cristia Rosineiri Gonçalves Lopes Corrêa
11/8/20252 min ler
Sob o ponto de vista psicológico, dentre outros fatores, a distorção da imagem corporal ocorre devido ä problemas que o indivíduo teve na construção da autoimagem que ocorre na infância. E ocorre também devido à distorções cognitivas relacionadas ä avaliação do corpo. Acerca das mencionadas distorções, podemos encontrar:
1-Pensamento dicotômico: O indivíduo pensa em extremos com relação a sua aparência ou é muito crítico em relação a ela;
2-Comparação injusta: Quando o indivíduo compara sua aparência com padrões extremos (atores, atrizes, esportistas, modelos);
3-Atenção seletiva: Focaliza um aspecto da aparência (uma parte do corpo);
4-Erro cognitivo: O indivíduo acredita que os outros pensam como ele em relação à sua aparência.
Na Anorexia Nervosa (AN) há uma grave distorção da imagem corporal. Para alguns autores, tal distorção é, inclusive, o sintoma nuclear da NA. Na AN, além da autoimagem distorcida:
# Há uma restrição alimentar grave, com grave perda de peso;
# Traços obsessivos de personalidade podem estar presentes, dentre outras comorbidades;
# Ocorre mais em jovens, início entre 15 e 19 anos, com pico aos 18 anos, sendo estes mais introvertidos;
# Frequentemente, o insight da doença é pobre, isto é, o comportamento alimentar é considerado normal por eles, não existindo vergonha.
Já na Bulimia Nervosa (BN):
# Quando ocorre distorção da imagem corporal, esta é menos grave;
# Há menor perda de peso, com peso adequado ou sobrepeso;
#Traços histriônicos e boderline podem estar presentes, dentre outras comorbidades;
# Ocorre também mais em jovens, mas com início mais tardio (20-24 anos), sendo estes mais extrovertidos;
# Ocorre episódios compulsivos de ingestão de grande quantidade de alimentos por perda do controle;
# Conduta purgativa para neutralizar os efeitos do ganho de peso por meio de vômitos autoinduzidos, uso de laxantes, diuréticos, períodos alternados de inanição, exercícios físicos rigorosos, etc.;
# Há insight da doença, isto é, o comportamento alimentar é visto como alterado, sendo motivo de vergonha, culpa e desejo de escondê-lo.
Algo importante é que a conduta purgativa pode ocorrer também na AN do tipo purgativo. Na AN temos o tipo restritivo onde há forte restrição alimentar; e o tipo purgativo onde há forte restrição alimentar e condutas purgativas.
Muito importante o destaque aos fatores socioculturais com o ideal do corpo magro, atualmente muito veiculado pelas redes sociais, com consequente busca de imagem corporal perfeita.
Uma observação final é que comportamentos compulsivos de comer não seguidos de condutas purgativas, já indica um quadro de Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica.
Sobre comportamentos compulsivos de um modo geral, incluindo aqueles relacionados à comida, uma contribuição que a Neurociência tem trazido é que certos alimentos têm a propriedade de ativar o centro de recompensa cerebral, com grande liberação de dopamina, neurotransmissor relacionado ao prazer, levando o indivíduo a querer repetir aquela experiência mais, mais e mais... configurando o quadro compulsivo.
O tratamento é multiprofissional, envolvendo nutricionistas para a reeducação alimentar, psicólogos para o tratamento da baixa autoestima e correção das distorções cognitivas, dentre outras ressignificações, psiquiatras (com psicofarmacoterapia se houver comorbidade), clínico geral e endocrinologista.
